Por Mariana Campos
Quando se pensa em políticas culturais, logo vem a cabeça projetos baseados na inclusão social das diferentes camadas populares, por meio do acesso a uma cultura tida, historicamente, como universal. Porém, impôr um conceito distorcido de cultura, sob o pretexto de dar acesso ao que é produzido pela classe dominante, ou pelo que é assimilado por ela, não é o que se pode chamar de uma política de inserção cultural, ao menos não sob a concepção de cultura hegemônica levantada pelo filósofo italiano Antonio Gramsci. A partir dessa idéia, pode-se discutir se é possível aos dirigentes públicos construírem projetos alternativos que realmente valorizem a cultura popular, inserindo-a, de maneira efetiva, no âmbito das manifestações culturais hegemônicas.
Para Gramsci a hegemonia, no capitalismo, se baseia na idéia de que a influência exercida por determinada classe social, se dá pelo seu poder político e econômico. Isso permite que seus interesses prevaleçam e se imponham sob os interesses da maioria da sociedade. Em contraponto a esse poder dominante, Gramsci acredita num movimento de resistência das classes subalternas, de forma que elas se organizem para difundir a sua cultura, e a partir daí, não apenas se submetam à cultura hegemônica, mas tornem-se parte dela, de modo a desconstruí-la.
Se virmos a realidade política brasileira pela ótica gramsciana, percebemos que dentro da questão cultural hoje, as políticas públicas se voltam, predominantemente, para a imposição do que é produzido pela cultura hegemônica. Quando muito, na tentativa de inserir as classes marginalizadas, acabam por dar a cultura popular uma conotação folclórica, desvalorizando-a, da mesma forma. Nesse contexto então, qual seria o papel dos governantes em relação a esse tema?
Talvez medidas que se baseassem na valorização da cultura subalterna, no sentido de reconhecer que ela existe e possui uma identidade original, ajudariam a fortalecer os movimentos de resistência aclamados por Gramsci. O que também incentivaria as comunidades que fazem parte desse meio a alcançarem o respeito das classes dominantes.
Talvez medidas que se baseassem na valorização da cultura subalterna, no sentido de reconhecer que ela existe e possui uma identidade original, ajudariam a fortalecer os movimentos de resistência aclamados por Gramsci. O que também incentivaria as comunidades que fazem parte desse meio a alcançarem o respeito das classes dominantes.
Atualmente, verifica-se que o desenvolvimento tecnológico pode ser visto como uma nova fonte a ser explorada por aqueles que produzem uma cultura condenada a ficar à margem. A Internet traz uma proposta de democratização da informação, o que possibilita às classes populares a abertura de um espaço para mostrar aquilo que é produzido por elas, e não somente o acesso aos produtos hegemônicos que imperam nas grandes mídias.
Nesse caso, cabe aqueles que se propõem a dirigir democraticamente o país, a pensar projetos que, baseados nas tendências tecnológicas atuais, contemplem a necessidade de descentralizar o poder das mãos dos que detém a hegemonia cultural, para ceder e compartilhar com os representantes da cultura subalterna.
Por enquanto, o que se observa no contexto atual das políticas públicas voltadas para a cultura, é que a realidade brasileira parece estar um pouco longe do que defendia Gramsci. Contudo, se vistas positivamente, as características e tendências trazidas pelas novas tecnologias abrem um leque de possibilidades para que as classes subalternas sigam na luta por, quem sabe, tornar sua cultura hegemônica, e conquistar seu espaço, por meio de uma identidade própria, sem apenas submeter-se ao que lhes é imposto.