segunda-feira, 9 de junho de 2008

A periferia tem sete vozes


Diego, Estela, Valter, Aníbal, Du, Eloísa e Cristiano

Por Débora Freitas


Sete jovens vindos de cidades da grande São Paulo e da periferia paulistana queriam mostrar o que poderiam fazer com a voz. Os amigos Eloíza e Estela Paixão, Cristiano Alberto, Aníbal e Valter Macário, Diego de Jesus e Du Machado costumavam se encontrar no Capão Redondo, na casa de um deles, Valter, para colocar em prática a musicalidade que cada um havia aprendido ou desenvolvido nas poucas oportunidades que tiveram. “Naquele momento nós não tínhamos como comprar ou estudar nenhum instrumento, mas sabíamos cantar. Então, o jeito foi encontrar uma alternativa”, conta Aníbal.

Das reuniões e experimentações nasceu o Perseptom Banda Vocal um grupo que tem como principal instrumento a voz. Na verdade, as sete vozes são responsáveis pelos solos e todo o preenchimento harmônico, além de se transformarem em baixo, guitarra, trompete, percussão, e o que mais for necessário. Foi justamente a falta de recursos que fez aflorar nestes jovens um grande talento. Fazem parte do repertório do grupo músicas de artistas brasileiros da MPB, como bossa nova, samba e choro, e composições próprias.

O estilo ainda é pouco conhecido e divulgado na cidade, mas existem aproximadamente mais 15 grupos que fazem o mesmo tipo de trabalho, entre eles o Trato no Tom e o Canto ma non Presto. Porém, a origem musical de todos eles é basicamente a mesma, os corais das igrejas.

Apesar de alguns integrantes do Perseptom não morarem na cidade de São Paulo, a maior parte de suas atividades aconteciam aqui. E foi justamente dentro deste caldeirão cultural que a banda surgiu oficialmente, em 2002. Durante o dia o trabalho, e à noite as apresentações em casas de shows, bares e universidades, que rendiam quase ou nenhum dinheiro.

Mas a persistência abriu alguns caminhos. Foi em um festival fora do estado que o pessoal do Perseptom conheceu o cantor Chico César, que convidou a banda para gravar uma faixa do CD Amídalas, com a música Ninguém Sai. Ele não esconde a admiração que tem pelos artistas. “Perseptom me surpreende por ser um grupo de jovens negros da periferia de São Paulo que acrescenta um novo elemento numa cena já bastante rica. É um bálsamo para os nossos ouvidos cansados da cacofonia urbana de buzinas, sirenes de polícia, tiros, ambulâncias e promessas vãs”, filosofa. Começava aí o diálogo com a indústria cultural brasileira.

Em 2006, o grupo gravou seu primeiro CD, pela gravadora Paulus, chamado Brasil a Cappella, que foi indicado no ano seguinte ao Prêmio Tim de Musica, na categoria Grupo Vocal, e ficou em segundo lugar no prêmio internacional da Contemporary A Cappella Society of America – CARA, nas categorias Melhor Álbum de World Music e Melhor Música de World Music para o clássico Anunciação, de Alceu Valença. Também se apresentaram em programas de TV, como o Sr. Brasil, na TV Cultura, e o Todo Seu, na TV Gazeta.

Depois de seis anos na estrada, o Perseptom permanece firme na peleja e ainda enfrenta dificuldades no mercado cultural. Apesar das conquistas, o sucesso e o reconhecimento ainda parecem distantes. Com material suficiente para mais dois CDs, o grupo está à procura de uma nova gravadora. “Nosso trabalho não é facilmente digerível, é artesanal e não atinge as massas”, justifica Aníbal.

Mas apesar dos entraves nem passa pela cabeça de nenhum dos sete integrantes desistir. “Ainda não ganhamos dinheiro com a música, mas somos artistas de qualidade. Nós somos parte da cultura paulistana, da cultura brasileira e vamos continuar”, completa Eloíza.

O trabalho realizado pelo Perseptom Banda Vocal é um ótimo motivo para este blog continuar divulgando a cultura subalterna paulistana. Submetidos a um sistema implacável, que marginaliza quem está na base da pirâmide social, são filhos do caos, da violência e da miséria desta cidade. No entanto, o talento natural e a força de vontade estão acima de qualquer impedimento. Abaixo um vídeo com uma pequena amostra do Perseptom.


Nenhum comentário: